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RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS - PSICOLOGIA DO ARQUÉTIPO







RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS – PSICOLOGIA DO ARQUÉTIPO

O homem, por intermédio de suas instituições, procura ajustar-se ao meio em que está inserido.

Precisa adaptar-se aos três níveis de ambiente: o natural, o social e o sobrenatural. A adaptação aos níveis natural e social é mais obvia que ao sobrenatural.

A sua natureza física (biológica) se assemelha à natureza, ao natura naturandis, a Physis à qual se adapta. Quanto ao social é a forma de viver harmonicamente em sociedade, com o outro.

Quanto ao sobrenatural talvez não haja tanta obviedade, pois se relaciona ao imaginário e ao conteúdo inconsciente do coletivo e individual, nem sempre acessível, ou quase nunca, por meios conscientes.

A instituição religião seria o meio pelo qual o homem se ajusta ao seu ambiente sobrenatural (imaginário). Para alguns autores, em especial Keller e Summer, o homem, uma vez que incorre na crença, na existência de “outro mundo”, de espíritos e seres super humanos tem necessidade de a ele se ajustar, da mesma forma que faz com o natural e social.

Na esteira desse conceito deseja-se apresentar a visão de inconsciente coletivo, inconsciente individual e arquétipos associados aos Genitores Divinos (Orishas) e Ancestrais Ilustres (linhagem espiritual).

Reitera-se que a religião em sua mais pura acepção não se baseia apenas em necessidades físicas do homem, sendo a única instituição com tal perfil.

Não por isso, a religião (crenças, fé, rituais) está afeta ao saber mítico, alegórico, enquanto sua vertente crítica, a Teologia se insere no “pensamento racional” (logos), lógico.

Interessante que, apesar de muitos afirmarem que a religião se fundamenta apenas em conceitos absolutos ou metafísicos, ou que o mito se opõe ao logos, tal como a fantasia à razão, como palavra que narra a que demonstra, logos e mito são duas funções igualmente fundamentais da vida do espírito.

Neste aspecto e momento do discurso é necessário evocar o conceito que
Nietzsche trouxe quando afirmou que a filosofia ocidental a partir de Sócrates foi negada a intuição criadora da filosofia pré-socrática. Com isso se faz a distinção e se estabelece dois princípios: o apolíneo e o dionisíaco – a partir de Apolo (deus da razão, da clareza, da ordem, etc.) e Dionísio (deus da aventura, da música, da fantasia e da desordem).

Obvio esta que tais princípios não são opostos, mas complementares da realidade, e é nisso que se apóia a Teologia das Religiões afro-brasileiras, em outras palavras, na razão (consciente) e no irracional (inconsciente que corresponde a maior parte da mente).

A partir do conhecimento supra é necessário reiterar que as religiões afro-brasileiras (as várias Escolas) umas mais outras menos, conceitua suas entidades sobrenaturais como origem e fonte do comportamento (ethos) de seus “filhos de santo”, algo que determina, consolida e fortalece a identidade individual e coletiva (relações sociais positivas).

Conceitua-se de forma simples o inconsciente coletivo para designar parte do inconsciente que contém arquétipos, sendo, portanto, comum a todos os homens. E é no conceito de arquétipo que se alia os fundamentos do Orisha (Olori) e de seu “filho de santo” que lhe segue o perfil comportamental, como forma de identidade normal e não patológica (esquizofrenógena) como era da praxe acadêmica em passado recente.

Arquétipo ou imagem primordial (Jung) não tem sua origem conhecida e se repete em qualquer época e em qualquer lugar do mundo, mesmo onde não é possível explicar a sua transmissão por descendência direta. Os arquétipos nas religiões afro-brasileiras criam mitos dramatizados nos rituais do terreiro e da própria vida cotidiana, da mesma forma que influenciam várias tendências da comunidade ou sociedade como um todo.

Essa energia psíquica muito antiga (arquétipo – arque-antigo e tipo) presente no inconsciente coletivo (de todos os homens) é como se fosse o DNA psíquico, idêntico a todos os homens, mormente em seu aspecto nuclear, sendo o periférico característico a cada indivíduo (como exemplo cita-se o Orisha Ogun (Nuclear) e Ogun Onirê (o periférico) – próprio do indivíduo).

Introduz-se assim o conceito de Consciência que é um atributo humano que permite (re)-conhecer “quem sou” (consciência em si e de si), quem é o outro (que é diferente de mim) e o transcendente (o absolutamente outro).

Esse processo histórico é o de construção da identidade (de uma pessoa, grupo, povo, nação) por meio da consciência.

Com esse ensejo conceitua-se a individuação, processo de tornar-se um indivíduo ou de dar-se conta de que se é um indivíduo. Tal como empregado por Jung, o termo parece incluir não apenas a idéia de aperceber-se de que se é separado ou diferente dos outros, mas também a idéia de que se é uma pessoa integral e indivisível.

Assim se conceitua tais atividades que são robustecidas nos transes de possessão ou outros nas religiões afro-brasileiras, e mesmo como se dizia, fenômenos esquizofrenógenos, tais como fantasias e devaneios vários.

Depois desses conceitos sumarizados não se pode cogitar o que vem sendo teorizado ou pressuposto por várias vertentes científicas, mormente as antropológicas. Tem-se questionado que o período do Homo neanderthalensis ao Homo sapiens sapiens é muito curto para explicar os avanços tecnológicos e científicos alcançados. Do sílex às aeronaves que propiciam as viagens interplanetárias há um abismo de fases que deveriam ser superadas no processo de desenvolvimento psíquico e o período é insuficiente. E, então?

Aventa-se a hipótese de civilização extra-terrestre ter vindo de outros lócus do universo e ter proporcionado aos homens terráqueos condições psícosomáticas superiores, o que explicaria o recorde de transformações que se consubstancia no desenvolvimento da humanidade contemporânea.

A saga aventada pela ciência corrobora com a presença dos Orishas no Aiyê; e, principalmente a de época em que não havia limites entre o Orun (espaços sobrenaturais?!) e o Aiyê (Terra). Segundo o mito, por motivo de transgressão dos homens, Oxalá, de seu Espaço Sagrado lançou seu bastão de Poder Divino (Opashoro), que separou definitivamente o que era Orun do que era Aiyê.

Não seria essa civilização que teria estruturado o processo de desenvolvimento da comunidade planetária terrena? Não seria essa a explicação determinante sobre o arquétipo do Orishá? Isto é, Eles “deuses” se fizeram “homens”, todavia sem retirar as características fundamentais da herança humana, embora hibridizassem nos homens seus mundos de Luz e Sabedoria. Não seria essa a herança que se carrega que se vivencia e se forma a identidade do indivíduo, por intermédio do arquétipo?

Espera-se continuar e a discussão no próximo trabalho, que terá como mote o que foi exposto e se aprofundará no conceito do arquétipo e do fundamento do Orisha das várias religiões afro-brasileiras. Axé!


Obs. Resolveu-se grafar Orisha com sh como se fez nos primeiros textos, desde 1989.




Aranauam, Motumbá, Mucuiú, Kolofé, Axé, Salve, Saravá

Rivas Neto (Arhapiagha) – Sacerdote Médico

Ifatosh'ogun "O sacerdote de Ifá que tem o poder de curar

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