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Tradição, Linhagem e Ética nas Religiões Afro-brasileiras


Dedicamos nossa última publicação às questões da ética nas religiões afro-brasileiras. Gostaríamos de prosseguir este assunto com novas reflexões que esperamos possam contribuir com todos.
A ética pode ser abordada em vários setores e a religião é apenas mais um desses. Consideramos, porém, que a ética nas religiões afro-brasileiras difere um pouco das demais religiões. Não é melhor, mas diferente.
Chegamos a este argumento pelos anos de vivência no universo afro-brasileiro e perceber nele um senso de pertença e de comunidade pouco encontrado nas religiões de grande números de adeptos. Nestas (catolicismo, protestantismo, entre outras), os adeptos vão aos rituais, comungam dos mesmos hábitos religiosos mas acabam, na maioria das vezes, dividindo seu modo de vida com os familiares consanguíneos. A relação com a comunidade religiosa é mais dissolvida.
Nas religiões afro-brasileiras, que se originaram de três matrizes (ameríndia, africana e indo-europeia), talvez por séculos de enfrentamento, perseguições e pelo fato histórico de subjugação principalmente dos indígenas e negros escravizados, as religiões vinculadas a estas matrizes apresentam forte vínculo entre seus adeptos.
O terreiro, templo, choupana, choça, roça e tantas outras denominações das casas de santo das religiões afro-brasileiras configuram-se como um santuário de laços espirituais, os quais são possibilitados pelo sacerdote/sacerdotisa (pai/mãe de santo). Aqui retomamos a questão da linhagem/raiz como um dos elementos fundamentais para a constituição de uma Escola religiosa Afro-brasileira. O conhecimento do santo é “obtido” via oralidade e vivências com o (a) dirigente espiritual e os irmãos de santo. O conhecimento não é imbutido na cabeça dos iniciantes, antes, todos constroem o conhecimento coletivamente, em uma teia de relações espirituais.
A liderança religiosa exerce um papel de suma importância coordenando mentes e corações que certamente vibram em sintonias diferentes. Mas o segredo é justamente esse, fomentar o equilíbrio entre as pessoas de modo que as competências individuais sejam ressaltadas e colocadas em prol do Todo, da comunidade. A teoria da gestalt, por nós utilizada em outros textos, é aqui retomada. Os sacerdotes e sacerdotisas procuram sempre pensar a agir pelo Todo, pela comunidade e não pelas individualidades. É uma ética simples, porém complexa, na medida em que os seres humanos estão cada vez mais individualistas e egoístas. Pais e mães espirituais labutam diuturnamente contra a maré da sociedade planetária...mas não desistem!
Assim, o senso de pertença da comunidade é muito forte e auxilia a compreensão da identidade das religiões afro-brasileiras. Sua ética é pautada, portanto, na interdependência.
Aproveitando o ensejo finalizamos com alguns versos do saudoso poeta João Cabral de Melo Neto, cuja sensibilidade foi capaz de sintetizar em um poema a ética religiosa afro-brasileira, sem dar-se conta disso:
“Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos (...)
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos”
Axé!





Aranauam, Motumbá, Mucuiú, Kolofé, Axé, Salve, Saravá
Rivas Neto (Arhapiagha) – Sacerdote Médico
Ifatosh'ogun "O sacerdote de Ifá que tem o poder de curar”

 http://sacerdotemedico.blogspot.com.br/2012/05/tradicao-linhagem-e-etica-nas-religioes.html